“Manu olhou Mestre Hora cheia de admiração e disse baixinho:
- É o senhor mesmo quem faz o Tempo?
- Não, menina, eu sou apenas o distribuidor; meu dever é dar a cada ser humano o tempo que lhe é consignado.
- E o senhor não pode arranjar facilmente um jeito para que esses ladrões não possam mais roubar o tempo das pessoas? – perguntou Manu.
- Não; as pessoas têm de decidir elas mesmas quanto ao uso que fazem do seu tempo. E devem também ter cuidado com ele. Só o que me cabe fazer é reparti-lo.
Manu lançou um olhar à sua volta e perguntou:
- É por isso que o senhor tem tantos relógios? Um para cada pessoa?
- Não, Manu. Esses relógios são apenas meu prazer – minha distração predileta – são simplesmente uma cópia muito imperfeita de algo que cada um tem no seu próprio coração. Assim como você tem olhos para ver a luz, ouvidos para escutar os sons, tem também um coração para entender o Tempo. E todo o tempo que não é apreendido pelo coração é tão desperdiçado como seriam as cores do arco-íris para um cego ou o canto da cotovia para um surdo.
- Que acontecerá quando meu coração parar de bater? – perguntou Manu
- Então, o tempo terá terminado para você. Ou pode-se também dizer que você mesma é que voltará através do tempo, através de todos os seus dias e noites, meses e anos: voltará através de toda a sua vida, até chegar à grande porta semicircular de prata, por onde no princípio você entrou e pela qual saíra de novo. (...)”
do livro: ''- Manu, a menina que sabia ouvir.''
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